domingo, 24 de maio de 2009

Ele nunca soube, mas procuraram Olívia. Tenho a certeza que o fariam até ao fim-do-mundo. O que ele também nunca soube é que ela não morreu quando se atirou ao mar. Foi vista a passear por um campo de girassóis em Dordogne, na França. Como chegou lá, ninguém sabe. Levaram-na até à família e hoje, sem trocar uma única palavra com alguém, fechada em casa pela mãe, passa o dia entre flores, tem sempre o cabelo esticado e só veste cores claras. Os seus pensamentos nunca foram tão puros.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"O universo numa casca de noz"

O Professor Artur era um homem muito estranho, que me intrigava bastante. Eu passava as aulas a imaginar como seria a sua casa, se teria uma grande biblioteca, se gostaria de Ingres, se sonharia com Frida e se era realmente um filósofo. Divagava durante horas acerca do mito de Babel, da física teórica, de Rubens e Kandinsky, de Saramago e d' "Os Últimos Instantes de Sócrates". Era culto, infeliz, exigente. Dizia que "errar é humano", mas a verdade é que não tolerava erros. Um verdadeiro sofista. Uma vez disse-nos: "protejam-me do que eu quero"! Não percebi bem o que ele queria dizer com aquilo, mas pensei em tudo o que ele me ensinara e respondi que "o homem não é só mental" e era "preciso tornar isso claro". Ele não sorriu e eu concluí que ele nunca mais me ouviria.
Disse calúnias do Professor durante muito tempo, mas passados alguns anos percebi que estava apaixonada por ele. Ou seria pelo Trotsky? Não sei bem... E o meu bigode, será que o devia deixar crescer?

Lidía Sture, a esgrouviada