domingo, 27 de dezembro de 2009

O meu corpo dança quando está junto ao teu. Quando as tuas mãos me beijam e os teus olhos me abraçam.
Estamos juntos, porque o meu corpo está quente e eu sinto-o dançar, como nos teus lençóis.
Uma valsa?
Terra Estrangeira (filme de Walter Salles)

"É a primeira vez que vem a Portugal, não é? Posso lhe dizer uma coisa: isto aqui não é sítio para encontrar ninguém. Isto é uma terra de gente que partiu para o mar. É o lugar ideal para perder alguém ou para se perder de si próprio."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Um dia vou contar-vos a história do homem-bala que casou com Jenny e Marylin, as gémeas parasitas.
Consolação
Quando as flores morreram, morreu toda a sua esperança de ser feliz para sempre. O homem que lhe oferecera as flores, fizera-lhe inúmeras promessas que agora quebrava.
Com o coração a mil, os olhos inchados, a cabeça a arder e o rosto molhado, era difícil descansar, mesmo por uns minutos. Sentia-se traída. Passou a noite em claro, à espera de uma resposta, de um consolo, que nunca chegou. Passou-se uma semana sem que não saísse da cama e não parasse de chorar. Morreu de desgosto ao fim de sete intermináveis e penosos dias. Deteriorada pela fome, pela falta de movimentos, pela solidão. Partiu sem o calor que lhe haviam prometido ser eterno. Partiu deixando a sua própria dor cravada no peito daquele que provocara o seu terrível fim. Cravou tão fundo que também ele acabou por morrer. Foi a segunda vítima de um arrependimento que chegou tarde demais. Mas ela podia agora, finalmente, dormir.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

sábado, 20 de junho de 2009

Forrei as paredes do teu quarto com imagens que recortei de revistas e jornais presos na minha alma

Gostei sempre de contar as vidas dos outros. Ouvi, com prazer, tudo o que tinham para contar, sem nunca parar para pensar na minha própria história e em como seria bom poder contá-la a alguém. Nunca fiz questão de ser ouvida, também porque para mim foi sempre muito mais fácil dizer o que sentia, quando era necessário dizê-lo, escrevendo.
Gostava de me sentar no teu quarto e passar horas a escrever para ti, sem nunca te dar a conhecer uma única palavra. Não fico mais triste por isso. Quando me deito ao teu lado e me beijas, como se nunca o tivesses feito, sei que descobres a minha alma e vasculhas todas as suas gavetas e assim me vais amando e assim eu vou contando a minha história, aos teus lábios cor-de-rosa.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

"Si tu veux écrit moi
Je serais ta liberté"


domingo, 24 de maio de 2009

Ele nunca soube, mas procuraram Olívia. Tenho a certeza que o fariam até ao fim-do-mundo. O que ele também nunca soube é que ela não morreu quando se atirou ao mar. Foi vista a passear por um campo de girassóis em Dordogne, na França. Como chegou lá, ninguém sabe. Levaram-na até à família e hoje, sem trocar uma única palavra com alguém, fechada em casa pela mãe, passa o dia entre flores, tem sempre o cabelo esticado e só veste cores claras. Os seus pensamentos nunca foram tão puros.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

"O universo numa casca de noz"

O Professor Artur era um homem muito estranho, que me intrigava bastante. Eu passava as aulas a imaginar como seria a sua casa, se teria uma grande biblioteca, se gostaria de Ingres, se sonharia com Frida e se era realmente um filósofo. Divagava durante horas acerca do mito de Babel, da física teórica, de Rubens e Kandinsky, de Saramago e d' "Os Últimos Instantes de Sócrates". Era culto, infeliz, exigente. Dizia que "errar é humano", mas a verdade é que não tolerava erros. Um verdadeiro sofista. Uma vez disse-nos: "protejam-me do que eu quero"! Não percebi bem o que ele queria dizer com aquilo, mas pensei em tudo o que ele me ensinara e respondi que "o homem não é só mental" e era "preciso tornar isso claro". Ele não sorriu e eu concluí que ele nunca mais me ouviria.
Disse calúnias do Professor durante muito tempo, mas passados alguns anos percebi que estava apaixonada por ele. Ou seria pelo Trotsky? Não sei bem... E o meu bigode, será que o devia deixar crescer?

Lidía Sture, a esgrouviada

sábado, 14 de março de 2009

O dia começa quando me sussurras amor ao ouvido e nos deixámos compreender.
Teorias
Toda a gente se apaixonava por ele. Era uma pessoa bonita e muito interessante, é verdade, mas as relações nunca passavam dos 3 meses, até que apareceu a Miríam e transformou tudo à volta dele.
Foi diferente. Só sabiam amar juntos. E soavam tão bem como uma Dança de Tchaicovsky.
Houve sempre muita falta de comunicação entre ele e os que dele se aproximavam. Já com a Miríam... Surprendeu-o com um beijo que ainda hoje o faz render-se. Não avisou antes nem precisou de dizer nada depois.
Eu já sabia que as palavras atrapalhavam muito na hora de expôr o coração ao resto do mundo, mas é sempre bom ter como provar uma teoria. Toda a gente sabia que tudo era relativo, mesmo antes do Einstein, mas ele provou-o e tirou-nos o mérito. Se bem que todos dizem que a teoria nada tem que ver com o que é relativo ou não, mas não liguem ao que eu digo, não vale a pena. O que sabe sobre relações e ciência uma velha solteira e ignorante de 42 anos? Nada, claro.
"Beijar-te não foi esclarecedor?", escreveu-lhe Miríam nas costas, com beijos.

terça-feira, 3 de março de 2009

Celebrar a Bossa Nova

Eram 2h da manhã. No quarto que ficava no sótão a bebé Lavínia dormia, tranquila, e o gato Louco, preso à porta do armário, miava, impaciente. No rés-do-chão, já deitados, Dalila e Zé trocavam beijos e abraços, cúmplices como sempre. Mas a noite ainda estava a começar para os amigos que, na sala, entre litros de vinho e charutos, faziam a festa.
Na casa de que vos falo nunca faltou vinho e música. Às pessoas que nela moravam, e que por ela passavam, nunca vi faltar a boa-disposição e a vontade de festejar. Era uma casa de e para artistas, e Lavinía era a mais recente obra-prima.
O Diogo fazia anos. Era o seu primeiro aniversário como pai, o que lhe parecia um duplo motivo para celebrar. Passavam meses sem se ver e depois bebiam até não poder mais, dançavam toda a noite, habituados a bailes, conversavam e riam. Passavam-se horas assim, era como se estivessem estado sempre juntos. As músicas estavam sempre na ponta da língua, prontas a serem cantadas. Os abraços mostravam-se sinceros. As gargalhadas também.
Aquela festa foi especial para todos. Tinham se passado dois anos desde a última e muito tinha mudado na vida de todos eles. Quando a voz que saía da rádio se deixou espalhar por toda a sala e se ouviu que
o amor se deixa surpreender enquanto a noite nos vem envolver, a Teresa e o Luís beijaram-se. Estavam prestes a começar, juntos, a vida que andavam a tentar esquecer há quase 10 anos. Dali a uns meses já se tinham mudado para uma casa nova, já pensavam em filhos. Mais do que tudo queriam ver o mundo, vivê-lo.
Houve falta de comunicação durante todo o tempo que precedeu aquele momento (a do tipo não-verbal, se me faço entender). A bossa nova chegou para ajudar.
Depois do aconchego e do beijo na testa da Lavínia, o gato Louco miava, mas agora pachorrento, em direcção ao telhado, salvo por Diogo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

“Descubro um estranho prazer em dizer-lhe coisas que sei que me vou arrepender depois de lhe ter dito”, mas não há-de ser assim por muito mais tempo.

Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray
Depois de ti passei a dar mais valor aos dias. Comecei a contá-los, um por um, até que me apercebi de que a vida estava a passar por mim e eu continuava parada, sem fazer nada. Era preciso tomar uma atitude.
Hoje, levanto-me e afasto-me do piano. Ouço aplausos, vejo os outros levantarem-se também e choro, como chorei por ti, swain. Cai uma tulipa aos meus pés e na minha cabeça começo a ouvir a tua voz enquanto citavas Oscar Wilde, acompanhada por imagens daquela tarde, do sol a entrar pela janela aberta da sala, da música que tocava, de como me estendia no sofá à espera que viesses até mim, do teu cheiro a ópio. O último beijo que me deste… Não aproveitei nada daquilo como devia, como teria aproveitado se soubesse que não haveria mais.
Não me teria lembrado de tudo isto, não fosse tu estares mesmo à minha frente, na primeira fila, a olhar para mim com um sorriso estampado na cara, e sou sincera, não gosto do que estou a sentir. É descarado esse teu ar satisfeito e autoconvencido. De que serve agora todo o esforço que fiz e todo o tempo que levei para me convencer de que eras frio e insensível? ´
Agora penso nas barbaridades que gostava de ter dito e feito de todas as vezes que estive contigo, nos abraços que te quis dar quando senti um impulso para os dar e não dei. Como gostava que me tivesses conhecido, de verdade.
Maldito sejas, que vens para me atormentar! Porquê agora? Porquê ao fim deste tempo todo? Não me lembro de alguma vez teres dito que gostavas de solos de piano e é tarde demais para "Nunca mais disseste nada"...
Agora não tenho como fugir. Os Balcãs estão longe e a cortina ainda não desceu.