quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

“Descubro um estranho prazer em dizer-lhe coisas que sei que me vou arrepender depois de lhe ter dito”, mas não há-de ser assim por muito mais tempo.

Oscar Wilde em O Retrato de Dorian Gray
Depois de ti passei a dar mais valor aos dias. Comecei a contá-los, um por um, até que me apercebi de que a vida estava a passar por mim e eu continuava parada, sem fazer nada. Era preciso tomar uma atitude.
Hoje, levanto-me e afasto-me do piano. Ouço aplausos, vejo os outros levantarem-se também e choro, como chorei por ti, swain. Cai uma tulipa aos meus pés e na minha cabeça começo a ouvir a tua voz enquanto citavas Oscar Wilde, acompanhada por imagens daquela tarde, do sol a entrar pela janela aberta da sala, da música que tocava, de como me estendia no sofá à espera que viesses até mim, do teu cheiro a ópio. O último beijo que me deste… Não aproveitei nada daquilo como devia, como teria aproveitado se soubesse que não haveria mais.
Não me teria lembrado de tudo isto, não fosse tu estares mesmo à minha frente, na primeira fila, a olhar para mim com um sorriso estampado na cara, e sou sincera, não gosto do que estou a sentir. É descarado esse teu ar satisfeito e autoconvencido. De que serve agora todo o esforço que fiz e todo o tempo que levei para me convencer de que eras frio e insensível? ´
Agora penso nas barbaridades que gostava de ter dito e feito de todas as vezes que estive contigo, nos abraços que te quis dar quando senti um impulso para os dar e não dei. Como gostava que me tivesses conhecido, de verdade.
Maldito sejas, que vens para me atormentar! Porquê agora? Porquê ao fim deste tempo todo? Não me lembro de alguma vez teres dito que gostavas de solos de piano e é tarde demais para "Nunca mais disseste nada"...
Agora não tenho como fugir. Os Balcãs estão longe e a cortina ainda não desceu.