terça-feira, 3 de março de 2009

Celebrar a Bossa Nova

Eram 2h da manhã. No quarto que ficava no sótão a bebé Lavínia dormia, tranquila, e o gato Louco, preso à porta do armário, miava, impaciente. No rés-do-chão, já deitados, Dalila e Zé trocavam beijos e abraços, cúmplices como sempre. Mas a noite ainda estava a começar para os amigos que, na sala, entre litros de vinho e charutos, faziam a festa.
Na casa de que vos falo nunca faltou vinho e música. Às pessoas que nela moravam, e que por ela passavam, nunca vi faltar a boa-disposição e a vontade de festejar. Era uma casa de e para artistas, e Lavinía era a mais recente obra-prima.
O Diogo fazia anos. Era o seu primeiro aniversário como pai, o que lhe parecia um duplo motivo para celebrar. Passavam meses sem se ver e depois bebiam até não poder mais, dançavam toda a noite, habituados a bailes, conversavam e riam. Passavam-se horas assim, era como se estivessem estado sempre juntos. As músicas estavam sempre na ponta da língua, prontas a serem cantadas. Os abraços mostravam-se sinceros. As gargalhadas também.
Aquela festa foi especial para todos. Tinham se passado dois anos desde a última e muito tinha mudado na vida de todos eles. Quando a voz que saía da rádio se deixou espalhar por toda a sala e se ouviu que
o amor se deixa surpreender enquanto a noite nos vem envolver, a Teresa e o Luís beijaram-se. Estavam prestes a começar, juntos, a vida que andavam a tentar esquecer há quase 10 anos. Dali a uns meses já se tinham mudado para uma casa nova, já pensavam em filhos. Mais do que tudo queriam ver o mundo, vivê-lo.
Houve falta de comunicação durante todo o tempo que precedeu aquele momento (a do tipo não-verbal, se me faço entender). A bossa nova chegou para ajudar.
Depois do aconchego e do beijo na testa da Lavínia, o gato Louco miava, mas agora pachorrento, em direcção ao telhado, salvo por Diogo.

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