domingo, 27 de janeiro de 2008

Podes Ficar O Tempo Que Quiseres (ficção)

Queria falar do Martin, um inglês que conheci quando tinha uns 22 anos, um verdadeiro engatatão, mas não sei como começar.
Conheci-o porque era amigo de um amigo de um amigo de uma amiga minha, a Diana, num bar no Porto. Estava cá de passagem. Um tipo cheio de manias esquesitas. Disse-me que quando cortava as unhas dos pés, as media. E também me lembro de ele me dizer que só bebia chá inglês, que era o melhor, mas dizia-o sem nunca ter experimentado outros. Isso nem tem assim muita importância. O Martin não tem importância. Perguntem me porque estou a falar nele que eu respondo-vos: "não sei".
Esteve uma semana cá e dormiu com duas amigas minhas, fazendo questão de contar a toda a gente que o tinha feito. Tinha 28 anos, há miúdas que gostam de tipos mais velhos e a verdade é que ele até era giro. Tinha olhos cinzentos e o cabelo longo. Usava um anel no indicador direito. Eu trazia um no polegar quando o conheci, parecido com o dele. Acabamos por trocar anéis. Não, não dormi com ele, mas dançamos ao som de The Kinks até às 5h da manhã.
Contou-nos que vivia com os pais. "Sometimes girls call me a 'mummy's boy'", muito orgulhoso disso. "I think they like it". Ainda por cima, depois das noites de "wild sex", segundo ele, punha a mãe a cozinhar para as "chicks".
Depois desta noite nunca mais o vi.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O Bolo Frívolo Uma homenagem a Fuschia, a minha musa.

Havia um frívolo bolo sarapintado
Que navegava num mar sem sentido
Ou por qualquer lúgubre lago
Muito livre e bem assumido.
Desarticulado, quão desarticuladamente
Esse bolo frívolo navegava
Sobre as ondas de um oceano sem mente
Atirando peixes para um céu cor de malva.

Havia aí muitos, intensos pargos
De uma glória incomparável
E todo o lucro desses trabalhos amargos
Era atirado para esse céu arável.

Pelas lustrosas vagas sobre as cristas
Junto aos pescadores voava, de uma maneira ociosa,
O bolo frívolo com uma faca espetada
Nela e na sua tripulação de passas, melosa,
Como o sorriso de um espadarte saltitava com muita arte
(Essa faca de mesa azul e poderosa)
E o bolo frívoloenchia-se até cima
Com a sua tripulação de passas, melosa.

Havia aí muitos, imensos pargos
De uma glória incomparável
E todo o lucro desses trabalhos amargos
Era atirado para esse seu arável.

Em torno das praias das Ilhas Elegantes
Onde o peixe-gato a saltar ronronava
Lambendo as patas e os sorrisos brilhantes
E das suas barbatanas de pêlo cuidava,
Voava, voava sobre o céu cor de malva
O bolo frívolo e a faca
Que piscava o seu olho azulado
À espera de um casamento anunciado.

As migalhas espalhavam-se por esse mar sem sentido
Pelo bater do coração desse bolo
E a faca de aço sentia o melaço
De uma paixão sem boca ou ouvido.
Pela velocidade da luz eram espalhadas
Essas migalhas aos pais dedicadas,
E o ar tropical vibra agora a zumbir
Por esse bolo de amor ainda por vir.

O poema preferido da Fuschia, escrito por alguém que não eu.